domingo, 14 de outubro de 2007

"Hipótese de Gaia"

Texto 1:
Gaia é o nome que os antigos gregos usavam para designar a deusa da Terra. Esta deusa era ao mesmo tempo não só gentil, feminina e criadora, nas também cruel para todos aqueles que não vivessem em harmonia com o planeta.
Gaia foi a designação escolhida para a hipótese que considera que a evolução dos organismos é de tal forma inseparável da evolução do seu ambiente físico e químico, que juntos constituem um único processo evolutivo, auto-regulável. Desta forma, tanto o clima como as rochas, o ar e os aceanos não se limitam a ser “abastecidos” pela geologia, são também consequência da presença de vida.
Lovelock – Gaia, a prática científica da medicina planetária
Texto 2:
Vista da distância da lua, o que há de mais impressionante com a Terra, o que nos deixa sem ar, é o facto dela estar viva.
No espaço, flutuando livre embaixo da membrana húmida e cintilante de um luminoso céu azul, surge a Terra, o que há de exuberante nessa parte do cosmo. Se pudéssemos olhar por algum tempo, veríamos o torvelinho das grandes camadas de nuvens brancas, encobrindo e descobrindo as massas de terra meio escondidas.Observando por um tempo muito longo, um tempo geológico, veríamos os próprios continentes em movimento, flutuando à deriva, separados em suas placas de crosta sustentadas pelo fogo abaixo.
Ela tem a aparência organizada e auto-suficiente de uma criatura viva, plena de sabedoria, maravilhosamente hábil na manipulação do sol.
Lewis Thomas - the Lives of a Cell
Texto 3:
A Hipótese de GAIA é um lema de suma importância para reflectirmos.
Verificaremos estarrecidos que, apesar de estarmos aqui há tão pouco tempo, principalmente nos últimos 200 anos e mais aceleradamente nos 100 últimos anos, conseguimos uma proeza pouco invejável, a de colocar em perigo não só a nossa sobrevivência, mas a do próprio planeta Terra. A poluição descontrolada devido à expansão industrial e os transportes modernos; a devastação das florestas no mundo todo; o mau uso dos solos agricultáveis, provocando a erosão e em alguns lugares o avanço dos desertos ou a esterilização de extensas áreas que antes eram férteis; o aumento populacional em proporções geométricas; as montanhas de lixo, resultado do desperdício de nossa civilização consumista, infectando os rios e mares; e o crescimento exagerado e desordenado das áreas urbanas. Tudo isso vem, dia-a-dia, acelerando o desequilíbrio do ambiente planetário. Atingimos ou estamos próximos de atingir os limites suportáveis que a Terra tem quanto à sustentação da vida, em todas as formas e principalmente a vida humana.
Achamos que como indivíduos não podemos fazer nada ou simplesmente não compreendemos que cada acção nossa possa influir no conjunto do planeta. Esquecemos que fazemos parte, todos nós, cada um de nós, do todo. Fazemos parte do conjunto, do Sistema Terra. Há uma interligação e uma interdependência em tudo. As plantas, os animais, o homem, os rios, os mares, a atmosfera. A Terra é um imenso corpo, um verdadeiro organismo vivo auto-regulador, do qual nós, seres humanos, fazemos parte integrante. Desta forma, uma mudança ou interferência em qualquer componente do conjunto, por menor que seja, será sentida no todo.
Trata-se de uma visão holística, onde se vê a totalidade, onde o todo é entendido como maior que a soma entre as partes, pois inclui as partes e as relações entre elas.
A Terra está viva, como afirma o biólogo inglês James Lovelock e a bióloga americana LYnn Margulis. Diz ele que é preciso entender que cada componente da Terra funciona de forma tão interligada, que pode ser comparada a uma orquestra bem afinada. As plantas e os animais fazem parte do mesmo conjunto, da mesma unidade funcional. São órgãos de um organismo maior:- GAlA, o próprio Planeta Terra.
As árvores, as florestas, os animais, os insectos, os microorganismos, as pradarias, os banhados, as algas microscópicas dos oceanos, são também órgãos nossos. Diríamos, órgãos externos, tão nossos quanto o coração, os pulmões. o fígado, estes, nossos órgãos internos. Assim, qualquer destes componentes está aqui para nós, como nós também estamos para eles. Cada qual possui sua função dentro do conjunto, que é o corpo de GAIA.
Entender e aceitar isto é compreender que GAlA, como um corpo vivo, também faz parte de um conjunto mais amplo, em perfeita interacção com o restante do Sistema Solar, com a galáxia e com o resto do Universo.
O corpo planetário de GAIA está sujeito ao próprio destino do Cosmos. Há uma interacção, uma ligação, uma inter-relacão entre o micro e o macrocosmos.
O Planeta Terra deve ser sentido como um ente vivo, que tem identidade própria, talvez único de sua espécie, pois que, se existirem outras Gaias no Universo, seja em nossa ou em outras galáxias, certamente serão todas diferentes de nossa GAIA.
Repetimos aqui as palavras de um índio pele-vermelha, da triboSquawmish, o chefe Seatle, em carta-resposta dirigida ao Presidente dos Estados Unidos, em 1854, o qual propusera a compra da sua reserva e a transferência de seu povo para outro local. O velho chefe índio, entre outras palavras de profunda sabedoria e simplicidade, escreveu ao Grande Chefe Branco que:
“Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa ideia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los? (...)“
“Somos parte da terra e ela faz parte de nós“. (...)
“Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há ligação em tudo.”
"O que ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.”
Fernando Fraga
Texto 4:

Quando a NASA preparou as primeiras naves não tripuladas que desceram em Marte com aparelhos supersensíveis para ver se encontravam alguma espécie de vida, James Lovelock, que trabalhava como consultor de projetos, disse-lhes para não perderem tempo. Com uma análise da atmosfera de Marte ou de qualquer outro planeta poderia se dizer se havia ou não vida. Bastaria identificar com o auxílio de um espectroscópio se a atmosfera estava perto ou longe do equilíbrio químico. A atmosfera terrestre parece violentar as leis da química. Por uma razão e lógica próprias este desequilíbrio é mantido, assim como a temperatura. A Terra tem homeostase. Desde que apareceu a vida, há 3,5 bilhões de anos, o Sol já ficou duas vezes mais quente. Mas a vida na Terra, ou a lógica de Gaia, manteve a temperatura própria para vivermos em sua superfície. Lovelock, pensando mais profundamente no problema, resolveu inverter o enfoque tradicional, segundo o qual a vida existe na Terra porque reúne e mantém condições certas. Se a Terra oferece condições, deduziu, é porque a vida assim as mantém. A primeira atmosfera terrestre foi de hidrogénio, mas foi perdida por causa da pequena gravidade do planeta. A segunda proporcionava forte efeito-estufa, pois o Sol era duas vezes mais frio. Ela era constituída basicamente de gás carbônico, metano e amoníaco, com restos de hidrogênio da primeira. Era redutora e de origem eruptiva. Somente nela poderia aparecer a vida. Se as primeiras substâncias orgânicas surgissem numa atmosfera como a nossa, seriam rapidamente destruídas pela oxidação.
A partir do metano e do amoníaco da atmosfera, com a energia das descargas elétricas e da radiação solar, formava-se sempre mais material orgânico nos oceanos. Com isso diminuía o efeito-estufa. O sol estava ficando lentamente mais quente. Era preciso controlar. Os primeiros organismos só podiam alimentar-se da matéria orgânica existente nos oceanos. A "sopa primordial" começou a autoconsumir-se. Havia perigo de extinção. Por volta de 2,5 bilhões de anos atrás Gaia achou a solução. A fotossíntese permitiu à vida sintetizar sua própria matéria orgânica captando energia solar. Era uma solução, mas apresentava perigo - foi a primeira grande crise de poluição. O oxigênio libertado na fotossíntese era venenoso, mortal para os seres anaeróbios existentes. A vida superou aquela crise.
No organismo de Gaia, nós, humanos, individualmente somos apenas células de um de seus tecidos. Um tecido que hoje se apresenta canceroso, mas ainda tem cura. Já somos os olhos de Gaia. Hoje atravessamos um momento decisivo na vida de Gaia. O homem, conhecendo demais, cego de orgulho e com gula incontrolável, desencadeou um processo de demolição que supera as crises anteriores.
A sociedade industrial já está interferindo na concentração de gás carbônico na atmosfera, contrariando as tendências de Gaia num de seus importantes sistemas de controle da temperatura.
Outro sistema de controle de temperatura encontrado por Gaia após a última glaciação está ameaçado. O sistema foi o alastramento das florestas tropicais húmidas no que hoje chamamos de Amazônia, Congo, Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Indochina, Indonésia, Oceania, Austrália. Estas florestas têm uma fantástica evapo-transpiração. São gigantescos aparelhos de ar condicionado que exercem influência direta nos climas dos dois hemisférios porque estão na Linha do Equador.
Mais uma vez o homem está contrariando os desígnios de Gaia. Em todo o mundo estão sendo demolidas as florestas tropicais húmidas, num ritmo que alcança 100.000 km²/ano. No caso da Amazónia, se for devastada, poderá ser desencadeado um processo de colapso da grande floresta. Pois ela faz o seu próprio clima. Onde a floresta desaparece é substituída por solo nu. No lugar da evapo-transpiração, o solo torrado pelo sol produz ventos ascencionais quentes. As nuvens se dissolvem, deixa de cair chuva mais adiante.
José Lutzemberger
Texto 5:
Durante milénios, a humanidade explorou a Terra sem ter em conta o preço a pagar. Agora, com o mundo a aquecer e os padrões climáticos a alterarem-se drasticamente, a Terra começa a retaliar. James Lovelock, um dos gigantes do pensamento ambientalista, argumenta apaixonada e poeticamente que, apesar do aquecimento global ser agora inevitável, ainda estamos a tempo de salvar, pelo menos em parte, a civilização humana. Este livro, escrito aos 86 anos e depois de uma vida inteira dedicada à ciência da Terra, constitui o seu testamento.
“A Vingança de Gaia” – James Lovelock




Tópicos possíveis para exploração:
- A interacção entre os subsitemas terrestres para a homeostasia (auto-regulação) de Gaia.
- As implicações dos desequilíbrios causados num “órgão” de Gaia.

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